quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Clínica Transdiciplinar de Crianças e Adolescentes - ESPAÇO DOM QUIXOTE



Consultório

Como penso, sinto e me comporto frente ao ato de comer...



Por que quando estamos com fome não pensamos em comer uma alface, maçã....ou outro vegetal ou fruta?!......
Apesar de milhares de anos de evolução na ciência, na tecnologia, no âmbito social, o nosso cérebro não acompanhou essa evolução em relação ao ato de comer. O cérebro ainda está preparado para “lutar/procurar” comida na Savana Africana, como nossos ancestrais, onde os vegetais e frutas eram mais fáceis de conseguir. Para se ter acesso a gordura, sal e açúcar era preciso grande esforço (caçar, e pescar). Só que hoje em dia não precisamos mais percorrer longas distâncias para conseguir esses alimentos. Eles estão a um telefonema de tele-entrega da gente, não gastamos nenhuma energia para consegui-los, estão em qualquer esquina...... Então, o que fazer?
Na Terapia Cognitivo-Comportamental trabalhamos muito em cima de como sentimos, pensamos e nos comportamos frente às situações na vida, principalmente em situações de crise. Em relação à comida, isso não é diferente. Recorremos a ela em vários momentos: felizes, tristes, ansiosos, estressantes....mas em várias situações após comermos, frequentemente pensamos “ – Por que comi isso?” e muitas vezes agimos (comportamento) nos boicotando ( - “Já comi a mais então, mais um pouco não faz diferença!) (pensamento) assim comendo mais ainda e nos sentindo muitas vezes tristes. A partir disso, o clico continua, se realimenta....e o objetivo/motivação para a redução de peso é prejudicada.

Ex: Situação - Festa de Aniversário de Amigo

1 Comportamento 2 Emoção 3 Pensamento
Comer além da saciedade. Tristeza . “ Por que fiz isso ?”

4 Pensamento 5 Emoção 6 Situação 7 Comportamento
“ Já comi demais mesmo". Raiva. Em casa, após á festa. Comer mais sorvete.

Um dos principais pontos para alcançar uma redução de peso é diferenciar a fome (fisiológica) da vontade de comer (gula). Mas isso não é fácil, pois cada pessoa pensa, sente e se comporta de maneira diferente frente á comida. O maior passo para a mudança é a motivação e os objetivos que o/a levam a querer reduzir de peso.
Sobre a maneira de pensar em relação à comida temos que rever segundo Judith Beck*, os seguintes tópicos:
1- Sobre a fome e a vontade de comer;
2-Sobre a tolerância à fome e o desejo incontrolável de comer;
3- Sobre quando parar de comer;
4- Sobre quanto comer;
5- Sobre o bem-estar proporcionado pela comida;
6- Sobre ganhar peso;
7- Sobre quanto às outras pessoas comem;
8- Sobre o fim da dieta.
O plano proposto no livro Pense Magro, utiliza técnicas da Terapia Cognitivo-Comportamental, como por exemplo o cartão de enfrentamento das vantagens e desvantagens de emagrecer, monitorar por escrito a alimentação (como se fosse um diário alimentar), cultivar o hábito de comer sem pressa e sentado a mesa, escolher um “monitor” da dieta (alguém que incentive a pessoa a se manter fiel ao planejamento), aprender a tolerar a fome (com o objetivo de diminuir a ansiedade em relação a fome), criar o hábito de pesar-se,comprometer-se a prática de atividade física,desenvolver o costume do auto-elogio e outras.
O grande ”truque” para a mudança é aprender a resistir e a se confrontar, ou seja, “desligar “ os pensamentos distorcidos que nos levam a comer em excesso. Deixar de “pensar gordo” para “pensar magro”.(Beck, 2008)
Driblar e resistira à comida é uma das tarefas mais árduas, pois pensar magro requer disciplina e demanda muito empenho.
Uma dica para reflexão....
Sugestão de leitura: Livro: * Pense Magro- A dieta definitiva de Beck- Autora: Judith Beck. Artmed Editora, 2008.

TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DA FOBIA ESPECÍFICA – UMA INTRODUÇÃO AO ASSUNTO



“ Um dos efeitos do
medo é perturbar os sentidos e fazer
que as coisas não pareçam o que são.”
- disse Miguel de Cervantes em Dom Quixote,
século XVII.

CONCEITOS
* Ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo e apreensão que se assemelha a um desconforto em relação à antecipação de perigo. Ela é considerada um fenômeno universal e se liga a mecanismos de ataque-defesa (luta e fuga), vinculados à sobrevivência (Asbahr, Castillo, Manfro & Recondo 2000).
* Na apreensão ansiosa, isto é, um estado de humor orientado para o futuro, o sujeito se torna pronto ou preparado para tentar lidar com acontecimentos eminentemente desagradáveis; essa condição está ligada a um estado de afeto negativo elevado, uma sensação de ausência de controle e um foco sobre os estímulos ameaçadores (Barlow & Craske, 1999 p.15, Fernandes & Terra, 2008).
* O medo fóbico é específico e, na maioria das vezes, lança-se para o meio externo através de manifestações próprias do corpo, as quais, normalmente, afetam o sistema nervoso autônomo, levando a manifestações neurovegetativas, tais como: vertigens, pânico, palpitações, distúrbios gastrointestinais, sudorese e perda da consciência. Esses sintomas determinados pela fobia surgem sempre que o paciente se depara com o objeto fóbico (Ballone, 2005).
* A fobia é um sentimento de medo, injustificado e desproporcional, que se introduz e persiste no campo da consciência e se mantém ali, independente do reconhecimento de sua forma infundada e da intensidade com que se manifesta. A característica essencial da fobia consiste num temor patológico que escapa à razão e resiste a qualquer espécie de oposição, temor este dirigido a um objeto específico (Ballone, 2005).
DESCRIÇÃO
Dentre os quadros psiquiátricos mais diagnosticados tanto em adultos como em crianças são os transtornos de ansiedade. Estima-se que a prevalência desses transtornos ao longo da vida seja de 15 % em adultos e 9% em crianças (Asbahr, Castillo, Manfro & Recondo , 2000, para. 9).
Segundo o DSM IV-TR (APA, 2002), entre os Transtornos de Ansiedade, temos a Fobia Específica. Sua característica principal é o medo acentuado e persistente de objetos ou situações claramente discerníveis em que, com freqüência, o estímulo fóbico é evitado ou suportado com temor. O medo ou a antecipação ansiosa do encontro com o estímulo fóbico interfere significativamente na rotina diária, no funcionamento ocupacional (trabalho ou escola) e na vida social do indivíduo. O paciente também sofre maciçamente por ter a fobia. Essas pessoas experimentam um medo acentuado, excessivo ou irracional, na presença ou previsão do confronto com determinado objeto ou situação.
O diagnóstico de Fobia Específica engloba cinco subtipos (DSM IV-TR, APA, 2002):
* Tipo Animal: o medo é causado por animais ou insetos;
*Tipo Ambiente Natural: o medo é causado por objetos ou situações do ambiente natural;
* Tipo Sangue-Injeção-Ferimentos: o medo é causado por sangue ou ferimentos ou por submeter-se a outros procedimentos médicos invasivos;
* Tipo Situacional: o medo é causado por uma situação específica, como andar de ônibus, avião, elevador, dirigir, pontes ou permanecer em lugares fechados;
* Outros Tipos: o medo é causado por outros estímulos, por exemplo, som alto.
As Fobias Específicas parecem ser desenvolvidas de maneiras bastante heterogêneas, variando em função de diferenças individuais, de aspectos ambientais e de seus subtipos, entre outros fatores (FYER, 1998). A fobia específica, de forma geral, é uma psicopatologia de início precoce, ocorrendo por volta dos cinco anos de idade, sendo que, na maioria dos indivíduos, os sintomas se extinguem espontaneamente ainda na infância ( Pergher,Piccoloto & Wainer, 2004).
Dependendo do tipo e da magnitude do medo e de suas condutas evitativas, os indivíduos freqüentemente são alvos de zombarias de amigos, familiares, colegas e de outras pessoas do círculo de relacionamentos, intensificando as dificuldades de falar sobre o assunto (Ballone, 2005; Pergher et al,, 2004).
Como solução imediata, os pacientes costumam elaborar espontaneamente, maneiras de evitar a proximidade com a situação ou objeto temido. Quando essas evitações fracassam ou geram um custo emocional ou funcional muito grande, aumenta a possibilidade da procura de tratamento (Ballone, 2005;).
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
A ênfase deste tratamento consiste na aquisição, pelos pacientes, da confiança para o enfrentamento daquilo que é evitado (Caminha, 2003). A terapia cognitivo-comportamental é uma abordagem psicoterapêutica fundamentada no modelo cognitivo, segundo o qual a emoção, o pensamento e o comportamento são determinados pela maneira como o indivíduo interpreta o mundo (Beck, 1997).
O pressuposto básico da terapêutica cognitivo-comportamental das fobias específicas é de que o medo, da mesma forma que é aprendido, pode ser desaprendido. É como se durante o desenvolver da fobia, houvesse uma aprendizagem de um jeito, agora, por ocasião da terapia, a aprendizagem devesse ocorrer de um jeito contrário, associada a uma resposta mais adaptativa (Wolpe, 1961).
A aprendizagem mais adaptativa evolui melhor no dia-a-dia, nos ambientes e nos contextos de inserção do paciente. Uma pessoa pode, através da observação, aprender padrões de respostas a certos estímulos de outras pessoas, reagindo aos mesmos em diferentes contextos e podendo gerar novas estratégias de enfrentamento (Vanderberghe; Sousa, 2006).
TRATAMENTO ESTRUTURADO
O diagnóstico é feito basicamente pelos sintomas do paciente, pois não há exames laboratoriais ou de imagem que possam ser usados como critério de avaliação. A psicoterapia deve respeitar as individualidades de cada paciente, ou seja, se atendo as suas características e a gravidade de sua sintomatologia (Abuchaim & Galvão, 2010).
A ênfase do tratamento no enfoque teórico cognitivo-comportamental é a aquisição por parte do paciente, da confiança para enfrentar aquilo que é temido e evitado (Caminha, 2003).
O plano terapêutico é dividido em três partes:
1. Sessões iniciais: psicoeducação sobre o transtorno (consiste em explicar as particularidades do transtorno ao paciente), psicoeducação sobre o modelo cognitivo comportamental (pensamentos influenciam seus sentimentos e comportamentos e podem ainda ativar reações em seu corpo), automonitoramento (identificação de seus sentimentos e comportamentos) e relaxamento (consiste em tencionar e relaxar alternadamente grupos musculares específicos e também a técnica de respiração diafragmática).
2. Sessões intermediárias: dessensibilização sistemática (utilizada para minimizar medos e ansiedades-exposição), auto-instrução (substituição de pensamentos mal-adaptativos por pensamentos adaptativos), modelação (aprendizagem a partir da observação de terceiros) e tarefas de casa (motivação e adesão à tarefa e à terapia).
3. Sessões finais: super aprendizagem (superexposição do paciente á situação ou objeto temido) e a prevenção à recaída (avaliação com o paciente e a família sobre todos os aspectos trabalhados e os ganhos obtidos e explicar que para se manter esses ganhos e necessária a contínua aproximação com o objeto ou situação fóbica) (CAMINHA, 2003; Caminha & Caminha, 2007).
Ao final do processo terapêutico, a proposta da terapia cognitivo-comportamental é que o paciente adquira confiança para enfrentar as suas dificuldades de modo mais independente. Assim, o terapeuta desde o início do tratamento pontua os avanços e melhoras do mesmo. Desta maneira, a cada experiência vivida com sucesso, deve-se reforçar que a fobia específica só será reduzida com a aproximação do objeto ou situação temida e não por sua evitação (Caminha, 2003).
Tem-se muito ainda a estudar, pois é um transtorno que afeta muitas pessoas em todo o mundo.