quarta-feira, 30 de novembro de 2011

TERAPIA COGNITIVA COMPORTAMENTAL NO TRATAMENTO DA FOBIA ESPECÍFICA – UMA INTRODUÇÃO AO ASSUNTO



“ Um dos efeitos do
medo é perturbar os sentidos e fazer
que as coisas não pareçam o que são.”
- disse Miguel de Cervantes em Dom Quixote,
século XVII.

CONCEITOS
* Ansiedade é um sentimento vago e desagradável de medo e apreensão que se assemelha a um desconforto em relação à antecipação de perigo. Ela é considerada um fenômeno universal e se liga a mecanismos de ataque-defesa (luta e fuga), vinculados à sobrevivência (Asbahr, Castillo, Manfro & Recondo 2000).
* Na apreensão ansiosa, isto é, um estado de humor orientado para o futuro, o sujeito se torna pronto ou preparado para tentar lidar com acontecimentos eminentemente desagradáveis; essa condição está ligada a um estado de afeto negativo elevado, uma sensação de ausência de controle e um foco sobre os estímulos ameaçadores (Barlow & Craske, 1999 p.15, Fernandes & Terra, 2008).
* O medo fóbico é específico e, na maioria das vezes, lança-se para o meio externo através de manifestações próprias do corpo, as quais, normalmente, afetam o sistema nervoso autônomo, levando a manifestações neurovegetativas, tais como: vertigens, pânico, palpitações, distúrbios gastrointestinais, sudorese e perda da consciência. Esses sintomas determinados pela fobia surgem sempre que o paciente se depara com o objeto fóbico (Ballone, 2005).
* A fobia é um sentimento de medo, injustificado e desproporcional, que se introduz e persiste no campo da consciência e se mantém ali, independente do reconhecimento de sua forma infundada e da intensidade com que se manifesta. A característica essencial da fobia consiste num temor patológico que escapa à razão e resiste a qualquer espécie de oposição, temor este dirigido a um objeto específico (Ballone, 2005).
DESCRIÇÃO
Dentre os quadros psiquiátricos mais diagnosticados tanto em adultos como em crianças são os transtornos de ansiedade. Estima-se que a prevalência desses transtornos ao longo da vida seja de 15 % em adultos e 9% em crianças (Asbahr, Castillo, Manfro & Recondo , 2000, para. 9).
Segundo o DSM IV-TR (APA, 2002), entre os Transtornos de Ansiedade, temos a Fobia Específica. Sua característica principal é o medo acentuado e persistente de objetos ou situações claramente discerníveis em que, com freqüência, o estímulo fóbico é evitado ou suportado com temor. O medo ou a antecipação ansiosa do encontro com o estímulo fóbico interfere significativamente na rotina diária, no funcionamento ocupacional (trabalho ou escola) e na vida social do indivíduo. O paciente também sofre maciçamente por ter a fobia. Essas pessoas experimentam um medo acentuado, excessivo ou irracional, na presença ou previsão do confronto com determinado objeto ou situação.
O diagnóstico de Fobia Específica engloba cinco subtipos (DSM IV-TR, APA, 2002):
* Tipo Animal: o medo é causado por animais ou insetos;
*Tipo Ambiente Natural: o medo é causado por objetos ou situações do ambiente natural;
* Tipo Sangue-Injeção-Ferimentos: o medo é causado por sangue ou ferimentos ou por submeter-se a outros procedimentos médicos invasivos;
* Tipo Situacional: o medo é causado por uma situação específica, como andar de ônibus, avião, elevador, dirigir, pontes ou permanecer em lugares fechados;
* Outros Tipos: o medo é causado por outros estímulos, por exemplo, som alto.
As Fobias Específicas parecem ser desenvolvidas de maneiras bastante heterogêneas, variando em função de diferenças individuais, de aspectos ambientais e de seus subtipos, entre outros fatores (FYER, 1998). A fobia específica, de forma geral, é uma psicopatologia de início precoce, ocorrendo por volta dos cinco anos de idade, sendo que, na maioria dos indivíduos, os sintomas se extinguem espontaneamente ainda na infância ( Pergher,Piccoloto & Wainer, 2004).
Dependendo do tipo e da magnitude do medo e de suas condutas evitativas, os indivíduos freqüentemente são alvos de zombarias de amigos, familiares, colegas e de outras pessoas do círculo de relacionamentos, intensificando as dificuldades de falar sobre o assunto (Ballone, 2005; Pergher et al,, 2004).
Como solução imediata, os pacientes costumam elaborar espontaneamente, maneiras de evitar a proximidade com a situação ou objeto temido. Quando essas evitações fracassam ou geram um custo emocional ou funcional muito grande, aumenta a possibilidade da procura de tratamento (Ballone, 2005;).
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
A ênfase deste tratamento consiste na aquisição, pelos pacientes, da confiança para o enfrentamento daquilo que é evitado (Caminha, 2003). A terapia cognitivo-comportamental é uma abordagem psicoterapêutica fundamentada no modelo cognitivo, segundo o qual a emoção, o pensamento e o comportamento são determinados pela maneira como o indivíduo interpreta o mundo (Beck, 1997).
O pressuposto básico da terapêutica cognitivo-comportamental das fobias específicas é de que o medo, da mesma forma que é aprendido, pode ser desaprendido. É como se durante o desenvolver da fobia, houvesse uma aprendizagem de um jeito, agora, por ocasião da terapia, a aprendizagem devesse ocorrer de um jeito contrário, associada a uma resposta mais adaptativa (Wolpe, 1961).
A aprendizagem mais adaptativa evolui melhor no dia-a-dia, nos ambientes e nos contextos de inserção do paciente. Uma pessoa pode, através da observação, aprender padrões de respostas a certos estímulos de outras pessoas, reagindo aos mesmos em diferentes contextos e podendo gerar novas estratégias de enfrentamento (Vanderberghe; Sousa, 2006).
TRATAMENTO ESTRUTURADO
O diagnóstico é feito basicamente pelos sintomas do paciente, pois não há exames laboratoriais ou de imagem que possam ser usados como critério de avaliação. A psicoterapia deve respeitar as individualidades de cada paciente, ou seja, se atendo as suas características e a gravidade de sua sintomatologia (Abuchaim & Galvão, 2010).
A ênfase do tratamento no enfoque teórico cognitivo-comportamental é a aquisição por parte do paciente, da confiança para enfrentar aquilo que é temido e evitado (Caminha, 2003).
O plano terapêutico é dividido em três partes:
1. Sessões iniciais: psicoeducação sobre o transtorno (consiste em explicar as particularidades do transtorno ao paciente), psicoeducação sobre o modelo cognitivo comportamental (pensamentos influenciam seus sentimentos e comportamentos e podem ainda ativar reações em seu corpo), automonitoramento (identificação de seus sentimentos e comportamentos) e relaxamento (consiste em tencionar e relaxar alternadamente grupos musculares específicos e também a técnica de respiração diafragmática).
2. Sessões intermediárias: dessensibilização sistemática (utilizada para minimizar medos e ansiedades-exposição), auto-instrução (substituição de pensamentos mal-adaptativos por pensamentos adaptativos), modelação (aprendizagem a partir da observação de terceiros) e tarefas de casa (motivação e adesão à tarefa e à terapia).
3. Sessões finais: super aprendizagem (superexposição do paciente á situação ou objeto temido) e a prevenção à recaída (avaliação com o paciente e a família sobre todos os aspectos trabalhados e os ganhos obtidos e explicar que para se manter esses ganhos e necessária a contínua aproximação com o objeto ou situação fóbica) (CAMINHA, 2003; Caminha & Caminha, 2007).
Ao final do processo terapêutico, a proposta da terapia cognitivo-comportamental é que o paciente adquira confiança para enfrentar as suas dificuldades de modo mais independente. Assim, o terapeuta desde o início do tratamento pontua os avanços e melhoras do mesmo. Desta maneira, a cada experiência vivida com sucesso, deve-se reforçar que a fobia específica só será reduzida com a aproximação do objeto ou situação temida e não por sua evitação (Caminha, 2003).
Tem-se muito ainda a estudar, pois é um transtorno que afeta muitas pessoas em todo o mundo.

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